Faz pouco, muito pouco tempo que a sua escova de dente estava ali,
ocupando o meu suporte do banheiro, e aquela sua mania chata de espremer a
pasta de dente que sempre me tirou do sério.
Parece que foi ontem, que eu vi você chegando, tímida, falando sobre dar
um passo a mais na relação.
Eu que mal sabia o que eu queria, confesso que
senti certo medo na primeira noite que eu acordei pra ir ao banheiro, e a sua
escova estava lá, dividindo espaço com a minha e com aquela pasta esmagada.
Perdi a noção de quanto tempo faz isso, mas eu lembro como se fosse hoje. Agora
a pasta tá intacta, limpinha, e isso tá me irritando mais do que a lambança que
você fazia. E a minha escova de dente, coitada... Dividindo espaço com a
solidão.
Por duas ou seis vezes, me peguei
no flagra, acordando de madrugada só pra espiar no banheiro se a sua escova por
acaso, não estava no mesmo lugar de onde nunca devia ter saído.
Mas o diacho da escova nunca aparece. Ela não volta,
você não volta e a pasta está irritantemente ilesa a mais ou menos 8 meses e 23
dias (não que eu tenha parado pra contar).
Como é que pode sentir falta de uma
coisa que me incomodava tanto?
Lembra quando eu
botei bilhetes espalhado pela casa, pra ver se você se dava conta da bagunça? Estou
com saudade do caos que você deixava o quarto, a cozinha, o banheiro, tô com
saudade de nós e de você. Como que pode eu sentir sua falta, se a gente já não
se aguentava mais? É só convivência e costume, ou eu estou descobrindo que
depois de 8 anos que eu realmente te amo. Você foi meu primeiro amor, minha
primeira amiga, minha grande amiga, minha grande mulher e hoje é até triste,
mas todo esse sentimento faz parte do que um dia fomos, parte de um passado que
mesmo insistindo, não volta mais.
Em todo caso, apertei forte o tubo de pasta de dente, como quem abraça
uma saudade e substituí o espaço vazio por uma escova reserva, afinal, tenho esperança que alguém por aí, possa estar precisando dela.